sexta-feira, 25 de junho de 2010

A confissão de Odilon.


Este texto foi fechado em 2 de março de 2002, as 16:56hs, onde conservamos a pontuação original. O Batata sempre com o pé no passado, reproduzindo histórias e causos que viu e ouviu.

A Confissão do Odillon
por Luís Carlos Castro Palma, o Batata.

Odilon, usando uma velha faca e sentado no degrau da escadinha da cozinha, raspava o barro da sua botina. Pensava: Fazia cinco meses que estava casado e a cada dia que passava se sentia mais feliz. Ele sabia que a Maria Umbelina o faria feliz, mas nem tanto. E mais, daqui a seis meses, seria pai.
O jantar transcorreu tranqüilo. Logo após o café, Umbelina comentou; “Só faltou aquela rapadura com cidra”. Ele notou que ela vinha falando muito na tal rapadura nos últimos dias.
Dia seguinte, durante a matula na lavoura de café, comentou o fato com o seu amigo Geraldinho. É claro que ele sabia sobre os “desejos” das mulheres grávidas. Ficou assustado, porém, quando conheceu os detalhes do que poderia acontecer se esses “desejos” não fossem satisfeitos, Depois do serviço, procurou por toda colônia a tal rapadura. Foi até na casa do patrão. Não encontrou. Inventou uma desculpa, arriou o seu cavalo e deu uma chagadinha até a venda. Voltou sem a bendita rapadura.
Sábado, arrumou pretexto e embarcou no trem da Companhia São Paulo e Minas que o levaria até a cidade mineira de Guardinha. Como o retorno só poderia ser feito no domingo, pousaria na casa do compadre Deoclécio Alves “Sá” Nica se dispôs a cuidar de Umbelina e dormir com ela aquela noite. Foi tranqüilo.
Na Guardinha, a primeira coisa que fez foi comprar três “tijolos” da melhor rapadura com cidra que encontrou. Depois, junto com o compadre e mais dois amigos foi jogar bocha nos fundos da venda do Moisés Bigode. Estava feliz e dormiu em paz depois de umas partidinhas do jogo de “truco”. Domingo, aproveitou para confessar e participar da missa. Voltou com a sensação de missão cumprida. Durante a viagem resolveu guardar a surpresa da rapadura até depois do jantar. Antegozou o momento de felicidade da Umbelina.
Chegou. Abraçou forte e carinhosamente a sua mulher. Agradeceu “Sá” Nica e a presenteou , maliciosamente, com uma rapadura das comuns. Enquanto as mulheres abriam o pacote foi até o quarto e guardou o bornal de viagem. Voltado para a cozinha as mulheres lhe contaram:
- Sabe, Odilon? Vosmece precisa agradecer o “seo” Juca. Ele foi no Altinópolis ontem de noite e Dona Salomé disse pra ele que a Belina estava com desejo de rapadura com cidra. Ele trouxe pra ela.
Odilon só fez abrir a boca e pensar “Deus queria que eu fizesse aquela confissão”.

Página Inicial

ÚLTIMA PÁGINA

Um comentário:

  1. Rapadura com Cidra é ótimo e contado assim pelo Batata ficou mais saborosa ainda!
    Marcos Cabete
    7 de fevereiro de 2010 10:48

    ResponderExcluir