terça-feira, 30 de novembro de 2010

O conto velho que o velho contou


Imaginem o fogo do Batata em véspera de fim de ano, precisamente às 7:39 hs da manhã de 31 de Dezembro de 2001, na boca do réveillon. É essa a data e a hora que consta em mais esse texto inédito que ora publicamos.

O sol estava escondido na sombra que eu fazia sobre a enxada. As minhas costas ainda ardiam do ardor do dia que ele iluminou e aqueceu, porém o suor já estava na camisa molhada e dava uma presença interior de tarefa cumprida.
Ontem, sexta-feira. Hoje, sábado na tarde. Beira do Sapucaí com quatro varas de pescar, desde lambari até a paixão de um sonho de três quilos. Isca eu tinha. Meio litro de milho fermentado, no capricho de oito dias por causa do tipo do rio; bom punhado de bolinhas de massa fervida no ponto e um naco de jabá, com quatro águas, para anzol maior.
O sol batia na minha cara, meio de lado, mas com cara de amigo quando cheguei ao rio. Passei de um ombro para o outro o saco de quirela para a ceva. Do outro lado, um gavião mostrava a pose de um rei pousado no galho daquele Óleo que um raio secou. Eu que não sinto cheiro de grama, senti cheiro de grama. Era meio descida, desci meio correndo.
O “Gancho”, meu cachorro de dez quilos, partiu na frente. Quase antes de entrar na capoeira beirando o rio deu de parar. Começou a latir... Pensei em cobra. Cheguei com o cabo da vara maior virado para a frente. Era nada, coisa de cachorro pequeno. Virei para entrar no matinho e reparei, do lado de cá, que tinha algum pescando no meu poço.
Mão no facão. Ele estava de pé por causa dos latidos. Mais chegado, eu com jeito de soldado de delegacia, percebi que era um velho desconhecido. Meio que apalpando fui chegando. O sol se escondia. Ele sabia fisgar piabas. Conversamos muito. Esquecemos as varas. Esqueci de dizer, quando falava das iscas, que eu trazia uma pinguinha. Causa do frio. O conto dele.
O conto dele: “Vale a pena viver mais de oitenta anos”.
Comentei:
--- Quero viver cem.
Aquele sorriso de polpa de goiaba seguido de um dedo quase querendo apontar, disse:
--- Cem é muito.

domingo, 27 de junho de 2010

Boi véio, volta na saudade.



Walter Braz Soares (1926 – 2003), conhecido por Boi Véio, foi um grande amigo do Batata, como de muitos. Ao falecer, em 2003, o Batata escreveu sobre a perda do amigo. O texto está na íntegra, fechado em 27 de fevereiro de 2003.

Lembrar as histórias do “Boi Veio” sempre é refrescante e bom . O nosso amigo já se mudou definitivamente para algum ranchinho lá no Céu, mas a sua lembrança continua locada entre nós. Ele, sem dúvida, marcou as pessoas com quem conviveu .
Na cidade, aparecia pouco, pois, como ele mesmo dizia, o seu ranchinho é o melhor lugar que Deus colocou no mundo para um caipira viver. Chegava depois do almoço e, logo, ia procurar seus amigos. Levar a sua alegria de alma limpa. Recebia, com nobre humildade, alguns presentinhos. Muitas vezes trazia os seus próprios presentes: uma dúzia de suculento limão galego, um macinho de hortelã ou de "alho de folha, um saquinho de tenros quiabos, duas ou três raízes de mandioca vassourinha que nem precisava ser cozida para fritar. O seu maior orgulho era presentear uma das suas famosas cabeças de repolho que chegavam a pesar oito quilos. Aliás, ele era capaz de dar tudo o que pouco possuía. Assim: se alguém lhe pedia emprestado o isqueiro haveria de enfrentar resistência para devolve–lo. O “Boi Veio” tinha uma máxima: É melhor ser do que ter.
Ele nasceu em Itamogi, MG, filho de família abastada. O pai, perdeu fazendas no jogo e empobreceu. Os filhos tomaram rumo. Walter Braz Soares foi se defender na cidade de São Paulo. Trabalhou como mecânico e metalúrgico. Fez Teatro. Viveu certo tempo em Paraitinga. Voltou para a região e trabalhou na roça. Foi se isolando até estabelecer uma casinha, quase rancho, fincada no sitio do sr Quirino Gatti, em Santo Antonio da Alegria. Virou o querido Boi Véio, homem que possuía a alegria de pertencer à Humanidade.
Ensinava uma receita de chá para a dona Filhinha, sentados a mesa da copa. Lucia, a copeira, serviu uma tigelinha de curau geladinho. Boi Véio recitou: Curau é doce bom, feito do milho mole. Enquanto como, comigo ninguém bole. Alegria, alegria. No fim, ficávamos os dois para contar lorótas. Esse dia, ele saiu com essa: Imagine, dia desse o sol estava muito forte que me avermelhou os zóio e coçava que parecia pimenta. De noite, já deitado, a coceira voltou. Acendi a lamparina e fui no caixotinho procurar o frasquinho de água boricada. Errei e passei água oxigenada. Ardeu valendo dois. Lavei, e passou. Perguntei: E daí, Boi, não deu problema depois? Armou aquele sorriso de lobo guará: Que nada. Só que pra mais de mês, quando eu olhava uma moça bonita, meus zóio escumava.

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Aquele Cheiro de café.



Lavoura de café na fazenfa Bela Vista, paisagem marcante na vida do Batata

por Luís Carlos Castro Palma - escrito em 30 de Abril de 2002

O cheiro de café coado chegou forte e ativo no ar do quarto, vem lá da cozinha. Incontáveis seis horas insones dentro da memória difusa imposta por uma má noite. Quase não se mexeu na cama, porém o pequeno movimento despertou o cheiro da urina. Estava acostumado. Pessoa de uns sessenta e cinco quilos, esqueleto contado, não era muito alto no tamanho do comprimento. Mesmo deitado ainda conservava aquele jeito estudado do gavião que abre as asas depois de pousar no galho e olha, desafiador, o derredor: “Não sou dono, mas só piso onde mando”. Antigamente dentro.
O coronel começou a reparar naquele moleque chutando, com raiva, a barriga do bezerro que demorava a se levantar quando o mesmo olhava para o tal. Mostra de valentia em tão tenra idade? Jeito de intolerante dominador? Sadismo? De uma maneira ou de outra, o próprio somava ou diminuía no comportamento do moleque.
O Batata em 2008

Cavalo arreado e com vistoso pelego vermelho. Cavalo visto nascer e amansado por ele da brabeza até chegar no ponto da confiança de não estufar barriga quando a barrigueira era apertada. Ingo, nome de Severino, o antigo menino já carregava vinte e seis anos. Capataz, trazia as boiadas de recria que vinham para a engorda nos pastos da fazenda próxima ao frigorífico de Andradina. Respeitado, adquiriu aquela atitude de gavião, Nos pousos e nas corruptelas a sua alma tinha a fama de um poço manso na superfície que escondia, no profundo, a coisa que pessoa alguma gostaria de ver com a cabeça fria. Nessa vida, labutou até perto dos quarenta e cinco anos.
Voltou para a fazenda no Sul de Minas. Na época, viúvo e sem filhos, não desgrudava da companhia do velho patrão. Deus no céu e, no inferno Lúcifer. Nos quatro lados pisados no chão estava o coronel. Tomou as maneiras da cidade mas o revolver, sempre na cinta, mantinha a sua confiança baguala dos tempos antigos.
Ano de política. O cheiro da pólvora dos foguetes chamou a sua irmã dos revolveres. Era a mesma nas narinas abertas pela paixão. Ele matou dois. Uma bala acertou a sua espinha dorsal. Quase morreu. Ganhou, na aposentadoria, um pequeno e bem formado sitio perto da cidade Viuvou duas vezes. Antoninha, filha do seu segundo casamento era quem cuidava dele. Sua boa casa fica na beiradinha da estrada. Gosta de ficar alpendrando e vendo as pessoas passarem. Certo o alguém no bate-papo .dos assuntos amenos. Ele acha uma maneira de incluir a sua frase já famosa: “O coronel sempre me respeitou como homem”.

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sábado, 26 de junho de 2010

O Batata nas Minas Gerais.

Em outubro de 1996, o Batata, Milton Botina, Rosana Zaidan e eu fizemos um passeio pela histórica Minas Gerais, passando por São João Del Rey, Ouro Preto e por fim, Poços de Caldas. Foi uma semana deliciosa onde o Milton e o Batata ficaram sem beber nenhuma cerveja sequer. Confiram a disposição do Batata logo na primeira noite num hotel em São João Del Rey.



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O Aboio da saudade.



Neste texto, datado de 27 de Janeiro de 2005, o Batata retrata uma companhia de Santos Reis na fazenda Bela Vista - Altinópolis, à época de propriedade única do avô José Lourenço de Castro. Até o final dos anos 1970, as companhias de Reis realizavam a Festa do Gongo em 13 de maio, dia da congada, sempre à sombra da famosa Figueira da praça da Matriz, em Altinópolis. O Batata também fotografou muitas festas.

O Aboio da Saudade
por Luís Carlos Castro Palma

O horizonte ainda mostra o amarelo da aurora quando se ouve os primeiros acordes da companhia de reis. Um som triste na forma e alegre no conteúdo. Percebemos o apelo e o agradecimento na melopéia simples e plena de sentimentos purificados na fé genuína do caipira. Aproximando-se, ela se torna comovente e relaxante. Alma de caipira é alma caipira.
O menino está dentro de uma ansiedade ativa. Ora fica na cozinha entre as mulheres que preparam os quitutes. Biscoitos de polvilho, bolos de milho, broas de fubá, bules e bules de café. A cozinha é enorme, porém parece pequena pela agitação. Na verdade, são poucas as que arrumam as "quitandas" nas peneiras de bambu. A maioria é das mulheres da colônia, que ali estão para completar o ar festivo da ocasião. Logo depois o garoto, na sala onde se reúnem os homens da família e mais os convidados, está meio que sentado nas pernas do avô. Não demora muito. Agora percorre o comprido alpendre buscando, entre as arvores do jardim, a posição para visualizar a "colônia da ponte" de onde partirá a companhia de reis da fazenda. A musica chega até ele, lá embaixo o movimento parece pequeno. Nota, entretanto, que uma espécie de procissão se forma. Companhia à frente, lá vem ela. Luiz volta correndo para dentro de casa. Os homens se levantam; as mulheres da casa chegam da cozinha tirando os aventais. As grandes portas de entrada da saleta são abertas completamente. Neno solta as molas da vai-e-vem e as apóia com dois caldeirões. As pessoas que estão perto do portão do jardim, a maioria vinda das fazendas vizinhas, entram, com vagar, no alpendre. Deixam larga passagem para a entrada dos foliões. A família da casa se posiciona na saleta com modo de receber a companhia inteira sob o seu teto. Os primeiros a se aproximar são os palhaços. Na função de protegerem a bandeira, fazem questão de abrir ainda mais o espaço da passagem. Ao pé da escadaria, um apito. Silencio repentino. No chofre, retumbante a musica explode. Antes de pisar o primeiro degrau, o "embaixador" canta saudando e pedindo licença para entrar. Lindo, lindo, lindo. Cantoria caprichada. Todos da família, por sua vez, seguram e beijam a bandeira. Menino extasiado. Quarenta minutos de enlevação. O chefe da casa convida todos para um "cafezinho enquanto as nossas queridas patroas preparam o almoço que será servido mais ou menos ao meio-dia. Isso depois do padre ter chegado, feito o sermão na capela e ter benzido a companhia para o ano que vem".
O café foi mais ou menos rápido porque a companhia de reis ainda teria de visitar as três colônias. As visitas eram feitas no conjunto porque casa por casa seria muito. Casa por casa, só depois.
Santos Reis na década de 1970
Frangos assados e mais frangos assados; leitoas e mais leitoas. Bacias e bacias cheias de macarronadas. Panelões com arroz temperado. Doce de leite, de mamão e de cidra tinha para valer. Convidados das fazendas vizinhas e da cidade. O almoço era oferecido por todos da fazenda cada um dando a sua parte dos alimentos e dos preparativos. A organização era por conta de uma comissão de festeiros sorteada a cada ano sendo o fazendeiro o único efetivo.
Essa tradição permanece até hoje em alguns bairros rurais da nossa região. Em Santo Antonio da Alegria, SP, no bairro Pinheiros, por exemplo, ela é viva e famosa. Em Altinópolis acontece todo ano. É o Aboio da saudade.

Sitio dos Cabete, palco de folia de Reis
Marcos Soares Ramos Cabete, um outro altinopolense da gema, também foi testemunha das cantorias de Reis

Fui vizinho da Bela Vista, famosa e movimentada fazenda de nossa querida Altinópolis. Morei no Sítio São Judas Tadeu que todos conheciam pela "Venda da Dona Helena", minha avó paterna. Cheguei a frequentar algumas destas festas da Bela Vista quando criança. A Folia de Reis também passava todos os anos por nossa casa onde armávamos um presépio com um pedaço de espelho formando um lago com areia branquinha e finíssima, que buscávamos no "Brejão". Para a grama colhíamos com uma faca os musgos das pedras e árvores de volta da casa.
Depois que passava a Folia de Reis vinha a nossa foliada na hora de passar escovão com palha de aço e encerar novamente a sala de piso de madeira do casarão construído em 1919.
Marcos Soares Ramos Cabete

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sexta-feira, 25 de junho de 2010

A Coceira Voltou?



Essa foto é da primeira comunhão do Luís Carlos, o Batata. Menino rico, mimado e paparicado por toda a família, até então o único neto de Juca Lourenço de Castro e Salomé de Paula Castro, seus tutores legais desde que ficara órfão de pai logo aos dois meses de idade. Neste texto, datado de 30 de Abril de 2004, ele nos leva à infância na roça, precisamente na fazenda Bela Vista, um cenário de muitas lembranças no imaginário do saudoso Batatinha.


A velha mangueira estava carregada com frutos maduros. Há quase uma semana, era visitada pela garotada que voltava das aulas. A maioria preferia derrubar as mangas maduras atirando outras mangas, outros cutucavam com bambu comprido. Alguns se aventuravam trepar na enorme árvore buscando as mais maduras que não eram atingidas pelos " tiros". Joséfe era um deles. Sempre foi destaque. Nasceu lindo e enorme, continuou sendo os dois . Cabelos loiros, pele rosada de bibelô e olhos parecidos com contas azuis. Corpo forte, cofre de alma alegre e generosa. Aventureiro demais, porem.
A turma que consertava um mata-burro, a mais ou menos uns duzentos metros da mangueira, notou que a professora e as meninas que a acompanhavam, voltavam quase correndo. Algo acontecia. Deca, apressado, foi conferir. Joséfe colocava Quinzinho ao ombro. Esse, mesmo sendo o mais ágil, havia escorregado, caído de altura média, e parecia ter fraturado o braço esquerdo. Em choque, não chorava. Revirava os olhos e gemia nos lábios brancos pela dor. A professora pegou o garoto e o recostou no tronco enquanto, ao mesmo tempo, acalmava as outras crianças. Fácil perceber a fratura no ante-braço esquerdo. Com duas réguas escolares e o seu cinto de pano fazia uma tipóia quando Deca chegou. Sentiu-se, então, mais segura. Não demorou muito, os outros trabalhadores chegaram. Avelino, na carroça.
Crianças na faz. Bela Vista

Joaquim foi levado ao hospital de Altinópolis. Nada grave. Doutor Alberto Crivelenti até brincou: "Moleque que não quebra nenhum osso não fica inteiro para virar homem". Sei não, mas até pareceu que Quinzinho trazia o braço gessado como um troféu. Á tarde, na fazenda, todos foram vê-lo. Desde que ele chegou, Joséfe não saiu de perto. Dois dias, a coisa passou.
Quatro dias, a coceirinha apareceu para ficar. Cresceu. Cresceu muito. O gesso já mostrava sinais de unha. O menino não pensava noutra coisa. O seu pai arrumou uma varetinha para ser introduzida entre o gesso e a pele. Pouco adiantou. Depois, adiantava nada. Obsessão coceira. O menino não dormia e até tentou, com faca, tirar o aparelho tormentoso. Tanto fez, que o levaram novamente ao hospital. Retirada a peça, foi verificado que a pele estava quase normal. Dr Antonio Figueiredo passou uma pomadinha qualquer e depois limpou bem. Convenceu o menino que não haveria mais de coçar. Até falou de uma tal "coceira psicológica". Ótimo, três dias e nada da tortura. Assunto esquecido. Joséfe chegou, conversou um pouco e, antes de sair, perguntou: --- E a coceirinha, voltou? Quinzinho arregalou os olhos ...

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Mais uma do Batata.


O Batata e o Padre Praxedes
por Marcos Soares Ramos Cabete

Após dois anos de internato, voltei do seminário sabendo fumar e tomar umas e outras, isto com meus 13 anos de idade. Frequentador da casa paroquial, onde conseguia tomar um vinho do padre e fumar um cigarrinho escondido, foi lá que presenciei uma cena e conheci pessoalmente o Batata, que já conhecia de fama.
O baixinho, corpulento e peludo, chegou vestindo um poncho mexicano e avisando que precisava falar com o novo padre que acabara de achegar à cidade. O padre Praxedes o recebeu em seu escritório, mas antes de se sentar, o Batata tirou debaixo do poncho dois grandes revólveres, negríssimos, e os depositou sobre a mesa para espanto do padre.
A conversa foi longa e inverossímel, passando por assassinatos, mulheres, traições e tantas outras coisas que o padre escutou pacientemente por mais de hora, mas terminou em grandes gargalhadas do batata e de todos nós, regadas a cerveja e boa música...
Essa era mais uma das peças que o Batata pregou no novo padre recém chegado à paróquia de Altinópolis...




Provavelmente um dos últimos textos do Batata, escrito em 30 de Janeiro de 2009, fechado às 16:53hs, conforme o indicador do world.

As Cruzes
por Luís Carlos Castro Palma

Uma daquelas histórias antigas contadas junto ao mormaço amigo do fogão a lenha. O pai, olho meio fechado pela fumaça do cigarro de palha, voz amiga e de suspense; a mãe remendando alguma roupa; os filhos moços com ares de entendedores; as moças com trejeitos de mocidade inocente e os menores com olhos redondos pela atenção que prestam. Um estalido do tição traz arrepios e os meninos trocam cutucões com cotovelos.
E a história: Os palhaços de Folias de Reis não são apenas palhaços no significado mais popular. Possuem, na tradição dos foliões de reis, várias funções de importância. Abrem alas para a passagem dos embaixadores da Folia, distraem a atenção dos “esbirros do rei Heródes”, caminham à frente, aos lados e na retaguarda do “térno de Reis” para proteger de toda e qualquer ameaça. Na realidade não são palhaços, apenas se disfarçam para melhor exercer o seu propósito de segurança .Protegem a Bandeira. E mais: recolhem esmolas em nome do Divino Menino. Quanto maior o montante da esmola maior a glória e o prestigio da sua Companhia de Reis. Tempos antigos, longas caminhadas faziam as Folias pelas estradas desertas. No encontro de duas Companhias, em tais lugares, sempre existia uma rivalidade “religiosa” entre as Bandeiras, provocava chistes e altercações maiores. Não passava de bate-boca até quando um palhaço ameaçava tomar as esmolas da outra Folia. Não era ameaça, mas desafio inaceitável. A coisa ficava séria. Os palhaços de cada Companhia simulavam, então, um duelo com espadas de pau. Muitos destes duelos degeneravam. Muitas cruzes pelas estradas contam isso. Aquelas três, também.


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