sexta-feira, 25 de junho de 2010

A Coceira Voltou?



Essa foto é da primeira comunhão do Luís Carlos, o Batata. Menino rico, mimado e paparicado por toda a família, até então o único neto de Juca Lourenço de Castro e Salomé de Paula Castro, seus tutores legais desde que ficara órfão de pai logo aos dois meses de idade. Neste texto, datado de 30 de Abril de 2004, ele nos leva à infância na roça, precisamente na fazenda Bela Vista, um cenário de muitas lembranças no imaginário do saudoso Batatinha.


A velha mangueira estava carregada com frutos maduros. Há quase uma semana, era visitada pela garotada que voltava das aulas. A maioria preferia derrubar as mangas maduras atirando outras mangas, outros cutucavam com bambu comprido. Alguns se aventuravam trepar na enorme árvore buscando as mais maduras que não eram atingidas pelos " tiros". Joséfe era um deles. Sempre foi destaque. Nasceu lindo e enorme, continuou sendo os dois . Cabelos loiros, pele rosada de bibelô e olhos parecidos com contas azuis. Corpo forte, cofre de alma alegre e generosa. Aventureiro demais, porem.
A turma que consertava um mata-burro, a mais ou menos uns duzentos metros da mangueira, notou que a professora e as meninas que a acompanhavam, voltavam quase correndo. Algo acontecia. Deca, apressado, foi conferir. Joséfe colocava Quinzinho ao ombro. Esse, mesmo sendo o mais ágil, havia escorregado, caído de altura média, e parecia ter fraturado o braço esquerdo. Em choque, não chorava. Revirava os olhos e gemia nos lábios brancos pela dor. A professora pegou o garoto e o recostou no tronco enquanto, ao mesmo tempo, acalmava as outras crianças. Fácil perceber a fratura no ante-braço esquerdo. Com duas réguas escolares e o seu cinto de pano fazia uma tipóia quando Deca chegou. Sentiu-se, então, mais segura. Não demorou muito, os outros trabalhadores chegaram. Avelino, na carroça.
Crianças na faz. Bela Vista

Joaquim foi levado ao hospital de Altinópolis. Nada grave. Doutor Alberto Crivelenti até brincou: "Moleque que não quebra nenhum osso não fica inteiro para virar homem". Sei não, mas até pareceu que Quinzinho trazia o braço gessado como um troféu. Á tarde, na fazenda, todos foram vê-lo. Desde que ele chegou, Joséfe não saiu de perto. Dois dias, a coisa passou.
Quatro dias, a coceirinha apareceu para ficar. Cresceu. Cresceu muito. O gesso já mostrava sinais de unha. O menino não pensava noutra coisa. O seu pai arrumou uma varetinha para ser introduzida entre o gesso e a pele. Pouco adiantou. Depois, adiantava nada. Obsessão coceira. O menino não dormia e até tentou, com faca, tirar o aparelho tormentoso. Tanto fez, que o levaram novamente ao hospital. Retirada a peça, foi verificado que a pele estava quase normal. Dr Antonio Figueiredo passou uma pomadinha qualquer e depois limpou bem. Convenceu o menino que não haveria mais de coçar. Até falou de uma tal "coceira psicológica". Ótimo, três dias e nada da tortura. Assunto esquecido. Joséfe chegou, conversou um pouco e, antes de sair, perguntou: --- E a coceirinha, voltou? Quinzinho arregalou os olhos ...

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